NOSSA HISTÓRIA CONTADA DE SEU INICIO A 15 ANOS PASSADOS

Por Marcia Macambira
Quando chegamos aqui, meio por “acaso” há quinze anos, não havia telefone, somente um posto telefônico que atendia a população e aos turistas que eram pouquíssimos na época.
Todos recebiam e faziam as chamadas neste posto, imagine como era o caos, ou divertido, ao receber o garoto que vinha dar os recados, quando éramos solicitados ao telefone.


Ficávamos o dia inteiro para fazer uma ligação, quando dava ocupado dava vontade de chorar, pois a próxima tentativa só depois de aguardarmos várias chamadas e esperar as pessoas fazerem outras tantas ligações. Com isso acabava que o posto telefônico era o ponto de encontro de todo mundo, e muitas fofocas rsrsr...foi difícil na época, agora me lembro com saudade, fomos os primeiros á comprar um telefone rural via celular no intuito de resolver o problema.


Ônibus é novidade recente. Vamos falar do caminhão do leite, vínhamos na sua boléia e só tinha um horário, ás 06 h da manhã e os bancos eram os latões de leite recolhidos dos sítios ao longo do trajeto, e dava-se por privilegiado se conseguisse sentar em um latão! Minha primeira viagem no caminhão de leite foi emocionante.


Estrada também não tinha! A segunda vez que estivemos aqui levamos 6 horas de S.Paulo até os primeiros 13 km de estrada de terra, os outros14 km que faltavam conseguimos fazer em, acreditem, 9 horas! Empurrando 16 carros morro acima, com mais de 40 pessoas super animadas, dançando no barro. Que programa de índio! Sem contar com o frio e chuva, foi nesse momento que tomei a primeira dose de cachaça da minha vida! Acho que é por isso que não gosto de cachaça... Ao chegarmos à Vila fomos contemplados com grande hospitalidade, os nativos nos receberam com o tradicional forro mineiro pé de serra no bar Ventania, maravilhoso! As dificuldades da chegada foram rapidamente esquecidas.


Uma vez durante uma época de verão caia muita chuva, ficamos ilhados durante 45 dias, ninguém saia, ninguém entrava, ninguém descia e ninguém subia, confesso que nesta época me bateu um grande baixo astral, fiquei nublada e mofada como o tempo que fazia aqui, a comida acabou no Arraial, e famintos, pescávamos literalmente, as galinhas dos nossos vizinhos que pastavam em nosso quintal.


Nossos primeiros hóspedes são inesquecíveis, alguns se tornaram nossos amigos até hoje.


Muitos mudaram de ramo e adquiriram pousadas e restaurantes, seguiram o nosso exemplo de coragem e perseverança.


Coragem, esta foi a grande palavra que nos fez largar tudo em S.Paulo e mudar para um lugar tão ermo, que não tinha nada! Nem turistas.



A Janela do Céu foi a primeira pousada do Arraial, o proprietário era um jovem professor universitário de Juiz de Fora, montou um cantinho no paraíso para descansar, tocar seu violão e receber os amigos, aliás, se chamava Canto da Serra.


Hospitaleiro, realizava várias festas e muita alegria aconteceu nesta pousada.


Como o número de amigos foi crescendo demais, foi necessário construir alguns quartos, tipo alojamento para recebê-los... os colchões eram de palha, o telhado de Eternit, os banheiro era dividido entre dois apartamentos, tudo muito simples, foi assim que nasceu a idéia da pousada.


Quando a vimos pela primeira vez foi paixão imediata! Ficamos encantados com a simplicidade do lugar.


Foi então que o universo conspirou para que morássemos nela, damos uma motocicleta de entrada e viabilizamos o restante depois, sem pensar muito na loucura.


Trabalhei muitos anos no meio de comunicação, com revistas, modelos, eventos, glamour, coelhinhas... Troquei tudo pelo lobo guará, pelos tucanos e pelo barro... Aliás tínhamos um tucano que se chamava Chico, e acreditem ele vinha de qualquer parte quando era chamado, uma gracinha, minha mãe nunca acreditou nesta estória, mas era verdade. Muitas vezes eu mesma me perguntei se havia feito a escolha certa.


Tinha acabado de chegar de Nova York, onde fiquei muito bem hospedada, e vim para Ibitipoca... este contraste me deixou maluca!

Senti muito medo, mas não perdi a coragem e ouvi o que meu coração gritava para eu fazer...


Descobri muitas coisas aqui, acreditem que muito mais do que eu havia imaginado que existisse.


Em S.Paulo, quando tinha algum problema, era só mudar o rumo ou me envolver com alguma coisa que tudo ficava “camuflado” e mal resolvido, claro!

Mas morar em lugar pequeno, os sentimentos são potencializados, ou você resolve, ou você resolve...não tem meio termo, não tem fuga, tem que se encarar, respirar fundo e resolver. Resolver mesmo! Dentro do coração.


Paixão não se explica, a gente se apaixona e pronto! Foi isso que aconteceu conosco, nos apaixonamos por Ibitipoca, entre um sarau e outro, entre uma fogueira e outra, e a recíproca foi verdadeira.

De tudo, o que mais me orgulha de ter aprendido, foi dar atenção as pessoas que me cercam, com prazer, carinho e cuidado.


Muitas outras pousadas surgiram... Pensamos em mudar nossa estrutura para acompanhar as novas construções, bem maiores e mais glamorosas que a nossa.


Temos até um terreno maravilhoso que compramos com este objetivo, mas pensamos muito... não valeria a pena fazer uma outra pousada.


O grande charme da pousada é este contato pessoal, as boas conversas, as trocas de experiência, o calor humano....tudo ia se perder.


Saímos de S.Paulo para ter uma vida mais tranqüila, com a pousada pequena já temos que nos virar para conseguir um tempinho para uma viagem e outra, um curso, visitar família, rever os amigos...imagine se nos aventurássemos em ser “grande”.
Isto comprometeria a qualidade do nosso trabalho, não teríamos mais aquele aconchego da casa da gente.


Aprendi a cozinhar aqui, comecei apenas para agradar um hóspede, ele gostou tanto que resolvi fazer outros pratos.


Ele chamou os amigos, que chamaram os amigos, que chamaram outros amigos...também me apaixonei pela culinária.


Tanto, que resolvi entrar para o mundo da gastronomia.


Me enfiei durante noves meses na cozinha do SENAC Grogotó.


A melhor escola de Minas Gerais...me realizei.


A generosidade dos meus instrutores foi tamanha, que se tornaram meus queridos amigos.


Levaram-me para vários festivais gastronômicos, sem contar que tenho amigos que trabalham em revista de alta gastronomia e também me deram muita força.


Antes disso eu já comandava o restaurante “Janela de Sabores” anexo à pousada, mas muitos hóspedes preferem comer fora para conhecer melhor a vila e não ficar muito preso na pousada, isto até eu conseguir servir o primeiro prato para eles rsrsrs.

Os hóspedes de outras pousadas dificilmente são indicados para comer no concorrente...por este motivo, resolvi conceber o “Maria Macambira” que já está prestes a nascer!


Um lugar aconchegante, seguindo o mesmo padrão e qualidade da pousada, com muito charme e comida gostosa, modéstia à parte.


No Janela de Sabores, estaremos mais voltados para os mimos gastronômicos dos nossos hóspedes, já no Maria Macambira, as pessoas vão se encontrar para comer, ouvindo uma bela música cheia de aconchego.


É este o nosso trabalho, é isto a Pousada Janela do Céu.


Todos os nossos espaços são bem decorados e cuidados com muito carinho, muita atenção.


Nossos apartamentos são pequenos, do tamanho das suas necessidades, do tamanho da simplicidade, porém cheio, muito cheio de vida e de amor.
É a Maria Nair quem dá vida a eles, devidamente auxiliada por mim,

Cezar, Josiane, Núbia, Alessandra, Simara e Tida.


Resolvi criar este link para as pessoas que possuem o feeling necessário para perceber qual é a nossa proposta de trabalho.


Corro o risco de perder muitas pessoas, mas as que optarem em compartilhar conosco o seu momento em Ibitipoca, com certeza estaremos na mesma sintonia, e isto torna tudo mais fácil e prazeroso.


Temos muito prazer em servir aqueles que procuram muito mais que uma hospedagem.


Talvez não possamos oferecer o “lugar” dos seus sonhos, mas com certeza, podemos oferecer o carinho, respeito e amizade que seu coração procura.


Esta é a filosofia do nosso trabalho.


Qualidade, carinho, respeito, bom gosto e aconchego.


Um forte abraço e muito obrigado por querer nos conhecer.

Marcia Maria Macambira.
Pousada Janela do Céu.